Um disco novo dos Mutantes, só de canções inéditas, acaba de chegar às lojas. Não ouvíamos uma frase assim há 33 anos, desde que a mitológica banda paulistana, então contando só com o guitarrista Sergio Dias de sua formação original, lançou o fracote "Mutantes ao Vivo" (1976) --que, apesar desse "ao vivo", não repetia repertório antigo.
A ansiedade gerada por um produto com essa grife, a mais importante da história do rock brasileiro, trabalha contraditoriamente a favor e contra seu lançamento. Ao mesmo tempo em que o selo Mutantes abre portas em todos os cantos do planeta, o respectivo som precisa ser taludo e potente ao extremo para fazer jus ao que se espera dele. E espera-se muito.
É justamente desse mal que padece "Haih... or Amortecedor", o novo álbum da banda --que, desta vez, tem Sergio Dias e o baterista Dinho Leme dos Mutantes originais.
Lançado por enquanto apenas no mercado americano e sem previsão para ganhar edição nacional, poderia ser considerado um bom álbum se sua capa estivesse assinada com o nome de outra banda.
Mas vem sob a marca sagrada dos Mutantes e, pobre coitado, precisa responder pelo legado tropicalista de alguns dos momentos mais geniais de Rita Lee, de Arnaldo Baptista e do maestro Rogério Duprat.
Não à toa, "Haih..." é revestido de referências aos Mutantes dos melhores tempos, entre 1967, quando estrearam no Festival da Record ao lado de Gilberto Gil, e 1972, último ano de Rita na banda.
Mas tais elementos estéticos, tão característicos daquele momento histórico-cultural, aparecem com certa obsessão no disco de 2009. Parecem ter sido procurados, milimetricamente calculados e decalcados do passado glorioso para o agora.
Como careciam da genialidade amalucada de Arnaldo Baptista (e não dispunham dela), os novos Mutantes foram atrás de outro gênio maluco para colaborar nas letras. Tom Zé assina seis das 11 neste trabalho. E começa o desfile dos clones.
O mesmo clima de "caipirrock" psicodélico de "2001", parceria dele com Rita gravada em 1969, volta sem disfarce em "2000 e Agarraum" --agora assinada com Dias.
O gago de "Qualquer Bobagem", outra parceria original de Tom Zé com os Mutantes em 1969, retorna em "Anagrama".
Agora, só gagueja nas últimas sílabas de cada verso.
O espírito latido de "Cantor de Mambo" é autoplagiado em "Samba do Fidel". "Nada Mudou" remete diretamente a "Fuga nº 2" (1969); "Neurociência do Amor", a "Tempo no Tempo" (1968).
Faltava equivalente para "Minha Menina", o samba rock de Jorge Ben que a banda lançou, com o autor ao violão, em 1968. Entra aqui "O Careca", do mesmo Jorge Ben --agora Jor.
Os novos Mutantes, ficou claro, são muito fãs dos Mutantes originais.
A ansiedade gerada por um produto com essa grife, a mais importante da história do rock brasileiro, trabalha contraditoriamente a favor e contra seu lançamento. Ao mesmo tempo em que o selo Mutantes abre portas em todos os cantos do planeta, o respectivo som precisa ser taludo e potente ao extremo para fazer jus ao que se espera dele. E espera-se muito.
É justamente desse mal que padece "Haih... or Amortecedor", o novo álbum da banda --que, desta vez, tem Sergio Dias e o baterista Dinho Leme dos Mutantes originais.
Lançado por enquanto apenas no mercado americano e sem previsão para ganhar edição nacional, poderia ser considerado um bom álbum se sua capa estivesse assinada com o nome de outra banda.
Mas vem sob a marca sagrada dos Mutantes e, pobre coitado, precisa responder pelo legado tropicalista de alguns dos momentos mais geniais de Rita Lee, de Arnaldo Baptista e do maestro Rogério Duprat.
Não à toa, "Haih..." é revestido de referências aos Mutantes dos melhores tempos, entre 1967, quando estrearam no Festival da Record ao lado de Gilberto Gil, e 1972, último ano de Rita na banda.
Mas tais elementos estéticos, tão característicos daquele momento histórico-cultural, aparecem com certa obsessão no disco de 2009. Parecem ter sido procurados, milimetricamente calculados e decalcados do passado glorioso para o agora.
Como careciam da genialidade amalucada de Arnaldo Baptista (e não dispunham dela), os novos Mutantes foram atrás de outro gênio maluco para colaborar nas letras. Tom Zé assina seis das 11 neste trabalho. E começa o desfile dos clones.
O mesmo clima de "caipirrock" psicodélico de "2001", parceria dele com Rita gravada em 1969, volta sem disfarce em "2000 e Agarraum" --agora assinada com Dias.
O gago de "Qualquer Bobagem", outra parceria original de Tom Zé com os Mutantes em 1969, retorna em "Anagrama".
Agora, só gagueja nas últimas sílabas de cada verso.
O espírito latido de "Cantor de Mambo" é autoplagiado em "Samba do Fidel". "Nada Mudou" remete diretamente a "Fuga nº 2" (1969); "Neurociência do Amor", a "Tempo no Tempo" (1968).
Faltava equivalente para "Minha Menina", o samba rock de Jorge Ben que a banda lançou, com o autor ao violão, em 1968. Entra aqui "O Careca", do mesmo Jorge Ben --agora Jor.
Os novos Mutantes, ficou claro, são muito fãs dos Mutantes originais.