Olha o passarinho
Uma fotografia hoje é produzida em milésimos de segundos, até mesmo pelos mais simples telefones celulares. Mas há mais de um século quando essa arte surgiu, os equipamentos fotográficos demoravam alguns minutos para fixar a imagem no filme. Nos retratos individuais ou de grupos de pessoas havia a necessidade delas posarem paradas durante esse tempo e quando tinham crianças envolvidas a dificuldade era ainda maior, pois havia a necessidade de prender a atenção delas e mantê-las olhando em direção à câmera.
Para fazer isso, os fotógrafos recorriam a um inusitado expediente: colocavam uma gaiola com passarinhos ao lado da câmera e na hora de fotografar soltavam a frase: "olha o passarinho". A expressão se popularizou e continua a ser usada para chamar a atenção das pessoas.
A vaca foi pro brejo
Normalmente em tempos de estiagem, as vacas saem em busca de água e podem entrar em áreas pantanosas, o que as leva muitas vezes a acabarem presas no lodo. Esse fato pode ocorrer também fora de épocas de secas, em regiões com muitas áreas alagadas. Atoladas, elas começam a afundar, não conseguem sair e acabam morrendo afogadas ou por inanição. Somente com a ajuda humana é possível tirar o animal dessa situação. Para os criadores de gado, a vaca ir para o brejo representa prejuízo certo. Assim, quando as coisas não dão certo ou quando algo ruim acontece popularizou-se usar a expressão "a vaca foi pro brejo".
Fazer uma vaquinha
Normalmente quando um time de futebol profissional vence um jogo importante, seus jogadores acabam recebendo uma premiação em dinheiro, o "bicho". Na origem dessa prática está o surgimento de outra expressão popular: "fazer uma vaquinha". Tudo começou nos anos 1920, no Rio de Janeiro, quando a torcida do Vasco da Gama resolveu estimular os jogadores a vencerem os jogos. Para isso, estabeleceu um incentivo monetário baseado nos números do jogo do bicho. O número cinco, do cachorro, representava cinco mil réis de premiação por um empate. O dez, do coelho, dez mil réis por uma vitória comum. E o 25, da vaca, 25 mil réis por uma vitória em jogos decisivos. Assim, a arrecadação do dinheiro do "bicho" dos jogadores pelos torcedores ficou conhecida como "fazer uma vaquinha".
Afogar o ganso
Você pode achar que essa expressão é só uma forma mais engraçada de referir-se ao ato sexual, do ponto de vista masculino. Mas há versões populares que atribuem a origem do termo a um costume na China em
que os homens mantinham relações sexuais com gansos e antes da ejaculação afogavam a ave para que ela tivesse mais contrações. Já a versão criada por Mário Prata, no livro "Mas Será o Benedito?", diz que a expressão foi um eufemismo usado por Dom Pedro 1.º em suas cartas para a Marquesa de Santos para referir-se às relações sexuais dos dois, driblando a censura imposta a essas correspondências pelo pai de Dom Pedro.
Lavar a égua
Tomar banho de champanhe após vencer uma corrida não é um costume que começou com os pilotos da Fórmula 1. Bem antes disso, quando uma égua vencia um páreo numa corrida de cavalos o bichinho já era saudado com um banho de espumante. Essa regalia era exclusiva da égua, já que seu semelhante do sexo masculino não recebia o mesmo tratamento. Assim, a prática dos donos do equino vencedor simbolizava que eles haviam ganhado uma boa grana de premiação e, por conta disso, a expressão "lavar a égua" popularizou-se como sinônimo de ganhar bastante dinheiro.
Tirar o cavalo da chuva
Há algumas versões ligeiramente diferentes para a origem dessa expressão. Para boa parte dos pesquisadores ela surgiu de um costume da época em que o cavalo era o principal meio de transporte no interior do país. Naqueles tempos, quando alguém ia fazer uma breve visita a um parente, amigo ou vizinho, normalmente "estacionava" seu cavalo em frente à casa em uma área descoberta. No entanto, se a conversa se alongava mais do que o esperado era comum o anfitrião falar para o visitante ir "tirar o cavalo da chuva", isto é, abrigá-lo em um local protegido, pois a visita iria demorar mais do que o imaginado. Com o passar do tempo, a expressão caiu no gosto popular. "Tirar o cavalo da chuva" significa desistir de algo, perder as esperanças ou a indicação de que alguma coisa vai demorar mais do que o previsto.
Lágrimas de crocodilo
Elas realmente existem e surgem quando o crocodilo passa muito tempo fora da água, fazendo com que suas glândulas produzam uma secreção lacrimal para lubrificar seus olhos. Elas também podem aparecer quando no ato de mastigar sua presa o animal pressiona as glândulas lacrimais. Em ambos os casos, as lágrimas de crocodilo são o resultado de um processo biológico e não têm nada a ver com uma possível tristeza que o réptil estaria "sentindo" naquele momento. Com o passar dos anos, a sabedoria popular consagrou a expressão "lágrimas de crocodilo" como sinônimo de todo choro que parece fingido ou hipócrita.
Dar com os burros na água
Credita-se a expressão à moral de um conto que remete a um fato comum na época colonial no Brasil: o uso dos burros para o transporte de cargas. O conto popular narra a disputa entre dois tropeiros para ver quem chegava primeiro a um destino. Um deles deveria usar o burro para transportar sal, enquanto o outro transportaria algodão com o animal. Só que no meio do caminho havia um rio e ao tentarem atravessá-lo, ambos perderam as cargas - o sal dissolveu-se e o algodão encharcou - e eles não conseguiram concluir a missão. Por conta disso, quando alguém é mal-sucedido em seus objetivos, usa-se a expressão "dar com os burros n'água".
A cavalo dado não se olham os dentes
Sua mãe provavelmente ensinou a nunca desdenhar daquilo que você recebe de presente. Se um dia você ganhar um cavalo, por exemplo, nunca olhe a arcada dentária do animal na frente de quem te deu. Isso por que os dentes do cavalo não nascem de uma vez, sendo que os últimos só surgem no quarto ou quinto ano de vida do animal. Assim, olhar os dentes dele significa verificar qual a idade do equino, o que pode ser bastante deselegante. Na satírica visão de Mário Prata, no livro "Será o Benedito?", a expressão popular no entanto tem raiz histórica na avareza da família real portuguesa. Ao chegar ao Brasil, fugindo das tropas de Napoleão, Dom João 6.º teria usado cavalos em péssimo estado como moeda de troca. E a quem reclamava ele usava a expressão "a cavalo dado não se olham os dentes".
Pagar o pato
Há pelo menos duas versões interessantes para a expressão que significa que alguém está arcando com as consequências da ação de outra pessoa. Uma delas está na coletânea de anedotas e provérbios "Facetiae", do escritor italiano Giovanni Bracciolini, publicada em 1450. Numa das historinhas narradas por Brancciolini, uma mulher casada interessada em comprar um pato de um vendedor ambulante propõe pagar pelo animal com favores sexuais. No entanto, enquanto ela e o vendedor discutem se a quantidade de sexo feita já era suficiente para quitar a dívida, chega o marido, que ludibriado pela esposa, acaba pagando o pato em dinheiro. Outra versão para a origem da expressão remete a uma antiga brincadeira que existia em Portugal. Nela amarrava-se um pato a um poste e os competidores deveriam tentar a cavalo pegar o animal soltando suas amarras em um só golpe. Quem perdia, pagava pelo pato sacrificado.
Fontes:
BARBOSA, Kleyson. Qual a origem da expressão "pagar mico"? in Mundo Estranho, edição 97, março de 2010, Editora Abril.
PRATA, Mario. Mas será o Benedito? São Paulo: Editora Globo, 2003.
RIBOLDI, Ari. O bode expiatório - origem de palavras, expressões e ditados populares com nomes de animais. Rio Grande do Sul: Editora Age, 2009.
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